Eu devia ter entre 9 e 10 anos. Sei disso, porque o fusca cor de vinho era 1967 e era praticamente novo, quando eu resolvi agradar o meu tio, dono do fusca.

Naquela época, agenda de criança era ir pra escola de manhã (se fosse menino, porque menina estudava à tarde) e só. As tardes eram quase infinitas e a gente tinha muita liberdade. Eu adorava passar o tempo na casa da minha avó, porque lá tinha muita coisa pra fazer, espaços pra explorar e, principalmente, tinha a oficina do meu avô – um verdadeiro desafio para a minha curiosidade e imaginação.

Bom, meu tio tinha comprado seu primeiro carro – um fusca 1.300 vinho, zero quilômetro e por algum motivo, naquela tarde ele foi trabalhar sem carro. Naquele tempo, playboy tinha que andar em carro sem calota, e o fusca sem calota exibia um buraco em cada cubo (peça do carro à qual se fixam as rodas).

Imagine: eu, a oficina do meu avô e um fusca vinho sem calota! E ninguém olhando!!!

Es estava com a almotolia (uma bombinha que a gente enchia com óleo e usava para lubrificar as coisas) do meu avô na mão, quando vi aqueles buracos no cubo do fusca. A almotolia tinha um tubinho para facilitar a aplicação. O fusca tinha aqueles buracos… Ora!! Conclusão lógica: aqueles buraquinhos deviam ser para lubrificar o fusca!!

Eu lembro bem que a minha intenção foi boa. Fiquei imaginando que meu tio ficaria agradecido pela lubrificação e orgulhoso de mim, pela iniciativa. Caprichei no serviço.

Um ou dois dias depois, família reunida, cheguei a tempo de ouvir meu tio, louco da vida, contando para a família que o carro dele tinha ficado sem freio. Que perigo!!! Ele levou na oficina e descobriu que os freios estavam cheios de óleo e ninguém sabia como isso podia ter acontecido.

Mas, como eu sou uma pessoa que reconhece os próprios erros e assume a responsabilidade por seus atos, resolvi contar a ele o que tinha acontecido. Quarenta anos depois.

(ah…  anos mais tarde descobri que os furos serviam para regular os freios)