Meu Pai, Graças a Deus

Esteve conosco o maior.

Certamente não é unânime a opinião. O maior brasileiro que já existiu era um homem que não gostava de qualquer luz sobre ou qualquer pedestal sob si.

Homem de pequenos e grandes prazeres. Entre os grandes, cumprir com grande zelo todas as suas obrigações, do trabalho ao pagamento de impostos. Sempre ensinava que se deve fazer o certo apenas por ser o certo. Estar com a esposa, estar com os filhos, estar com os netos, família. Saborear vitórias de seu Coritiba, boa comida, tomar um “gin-tônica” em ocasiões especiais. Ouvir a grande música dos discos guardados com muito cuidado, ler. Ser amigo, ter amigos e encontrá-los, ser leal, ser fiel. Grandes prazeres. Algumas viagens, pagar contas, ajudar com a louça, trocar fraldas, observar o movimento da sacada do apartamento. Pequenos prazeres.

Homem de pequenas e grandes dores. Ir a enterros, perder entes queridos. Amargar derrotas de seu Coritiba. Estar dependente. Grandes dores. Manter-se informado através da leitura diária do jornal e da Veja, noticiários da TV e rádio. Entrar em filas, precisar do serviço público, trocar lâmpadas. Receber elogios, tomar remédio, ir ao médico, fazer visitas. Pequenas dores.

Grande cidadão. Não estacionava em fila dupla, não jogava lixo na rua, não sonegava impostos, não pensava em vantagens. Não definitivo à corrupção.

Grande homem. Chorava, se emocionava, não resistia a um pedido. Sempre uma boa gorjeta. Gostava de rir e fazer rir. Grande humor, grande humildade, grande otimismo. Profissional brilhante, grande dedicação grande competência. Inteligência acima do normal, cultura excepcional.

Grande marido, atencioso, gentil. Grande pai, amoroso, dedicado, rigoroso, compreensivo. Homem feliz, sem grandes sonhos ou ambições, recentemente aprendeu a orar. Qualquer “ai”, só se não houvesse ninguém por perto.

Não ficou bom porque morreu. Foi bom porque viveu, pelo que foi.

Ninguém vai escrever sua biografia ou homenageá-lo com uma estátua. Mas os seus ensinamentos, seu exemplo e o seu nome viverão ainda um tempo, porque ele os deu a mim eu os dou a meus filhos. O imenso vazio de não tê-lo só se faz preenchido pelo privilégio de tê-lo tido.

Julio Xavier Vianna, meu pai. Graças a Deus.

29 de abril de 1996

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5 Responses to Meu Pai, Graças a Deus

  1. Avatar de Marcelo Miró Marcelo Miró disse:

    Linda homenagem Julinho.

    Acrescento. Tio amável, brincalhão e que muito me ensinou por seus exemplos.

    Tempos bons.

  2. Avatar de Sonia Maria Miró Sonia Maria Miró disse:

    Um exemplo, realmente, eu também o admirava.Bjos

  3. saudades do meu vo! espero conseguir passar ainda pra frente esses ensinamentos….:-)

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