Pela lembrança que tenho da temperatura, do cheiro e da hora em que anoiteceu, provavelmente era outono. A mãe estava preparando o jantar e todos esperávamos o pai chegar.
– Mãe, posso abrir uma lata de leite condensado?
– Claro que não!!
– Deixa?
– Não.
– Deixa, mãe!!
– Não incomode.
– Só um pouquinho. Deixa mãe.
– Sai daqui, guri!!!!
– Deixa eu abrir uma lata de leite condensado, mãe. Deixa, vai. Por favor!!!
– TÁ!!!! ABRA!!! E TOME TUDO. ATÉ SAIR PELOS OLHOS!!!! E SE NÃO JANTAR DEPOIS LAI LEVAR UMA CHINELADA!!!!
Maravilha. Eu e uma lata de leite condensado só pra mim. Um furinho de cada lado. Já pensou? Ela acha que não aguento…. Vou mamar tudinho!!!
Fui pro quintal e comecei a mamar a lata. Uma mamada … boca cheia. Outra. Mais uma.
Nossa…. Parece que tá mais doce que o normal. Deu sede…. Meia mamada.
GLÉ… Gruda na garganta.
GLÉ…. Não posso voltar lá se a lata não estiver vazia!!! E agora?
Já sei!!
Fui lá no portão de casa. Naquele horário passava muita gente pros dois lados. GLÉ
– “Moço quer Leite Moça?” GLÉ
– Não, obrigado.
– “Moça!! Moça!? Quer?” GLÉ
Pomba!! Ninguém quis minha lata meio mamada de Leite Moça. Não entendo. GLÉ
Já sei!!! Lá na frente do posto tem um bueiro. GLÉ
Voltei. Não jantei.
E não levei a chinelada. GLÉ…
Adoro essa!