O Transito a Caminho do Caos

TRÂNSITO A CAMINHO DO CAOS
Muito boa matéria da GAZETA, de 23 de março. Constitui discussão altamente oportuna. As opiniões dos profissionais e especialistas ouvidos são complementadas pelos depoimentos dos leigos usuários das vias e meios de transporte da cidade. O tempo gasto pelas pessoas em seus deslocamentos rotineiros constitui pedaços de vida que são tomados de cada um todos os dias e tende a aumentar continuamente. Tempo que poderia ser usado em atividades produtivas, lazer ou mesmo para descanso.
Não se pode abordar este tema sem considerar aspectos muito distintos que constituem grupos de causa e grupos de consequência, sob o risco de cometer graves erros. O elevado número de carros nas ruas é a causa dos congestionamentos. Mas também é sintoma de uma economia aquecida. O aumento da população também é causa do aumento do número de carros. A produção automobilística é uma das principais atividades econômicas do país, gera emprego, movimenta a economia. Quais destas causas e consequências são desejáveis e quais não são?
Precisamos lidar com fatos. Todas as pessoas, seus bens e suas atividades utilizam os espaços da cidade, a infra estutura, os serviços e os recursos como a água e o ar. Alguns indicadores contribuem para a análise da questão. A área utilizada pelas pessoas em seus meios de locomoção e a consequente emissão de poluentes, por exemplo:
– Uma pessoa caminhando ocupa 0,25 metro quadrado de via pública. Considerando as médias de ocupação dos diferentes veículos utilizados na cidade, as áreas ocupadas, por pessoa são aproximadamente: ônibus bi-articulado – 0,36 m²; ônibus articulado –  0,38 m²; ônibus convencional – 0,45 m²; micro ônibus – 0,63 m²; motocicletas – 3,40 m² e automóveis – 8,33 m².
Todos sabemos que o combustível com que abastecemos nossos veículos mistura-se ao ar para queimar e gerar movimento e acaba indo parar INTEGRALMENTE na atmosfera, na forma de gases e resíduos poluentes, enquanto o calor gerado promove o aquecimento da atmosfera. Os diferentes meios de transporte que usamos causam danos diretamente proporcionais ao consumo de combustível. Em média, uma pessoa usando ônibus bi-articulado, articulado ou convencional gasta 0,005 (cinco milésimos) de litro de combustível por quilômetro, micro-ônibus – 0,006 (seis milésimos) de litro por quilômetro; de moto – 0,036 (trinta e seis milésimos) de litro por quilômetro e os usuários de automóveis gastam, em média 0,095 (noventa e cinco milésimos) de litro por quilômetro.
Resumindo, os usuários de automóveis ocupam 23 vezes mais espaço e poluem 19 vezes mais que os usuários de transporte coletivo, aproximadamente. Se agruparmos os meios de transporte em conjuntos; é correto afirmar que os meios individuais de transporte fazem parte do “CONJUNTO PROBLEMA” enquanto que os coletivos integram o “CONJUNTO SOLUÇÃO”, sob o ponto de vista da utilização da infra estrutura urbana e da poluição atmosférica.
“MENOS CARROS NAS RUAS” é, de fato uma solução, mas está muito longe de ser simples. A migração de usuários de automóveis para o transporte coletivo só acontecerá quando representar uma vantagem real e perceptível. E o caminho não pode ser no sentido de piorar as coisas. Não podemos admitir que se busque piorar as condições do transporte individual até convencer seus usuários a mudar para o coletivo. O caminho deve ser, ao contrário, melhorar o serviço de transporte coletivo a tal ponto que passe a ser atrativo e acessível para todos.
É preciso que as empresas operadoras, as autoridades e a comunidade política vejam o transporte coletivo como uma atividade comercial em que o cliente deva ser conquistado. É fundamental conhecer a opinião e a necessidade das pessoas que usam o serviço. Mas é importante também conhecer a opinião e a necessidade daquelas que não usam. Saber o que conquistaria o cliente potencial. É necessário aplicar a criatividade, romper barreiras e buscar novos padrões, novos serviços, novas modalidades. Quando houver alternativas viáveis e atraentes que possam atender a todos, quando o serviço coletivo for acessível aos menos favorecidos e constituir realmente uma opção para os mais afortunados, só então poderemos admitir a imposição de barreiras ao uso do transporte individual, como rodízio de placas, pedágio urbano ou outras restrições.
Júlio Xavier Vianna Jr
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